25/08/2015

 Após – depois

Na fala geral, são usados indiscriminadamente. Mas, em regimes formais, convém adotar uma padronização.

Em rigor, após se usa para posterioridade no espaço (L A Sacconi, Dic. de dúvidas e dif..., 2005):

A secretaria fica após o centro cirúrgico.
O hospital fica após a prefeitura.
O acidente ocorreu após a curva.

Depois se usa para posteridade no tempo (L A Sacconi, Dic. de dúv..., 2005):
Tomar as cápsulas depois das refeições.
Discutiremos o caso depois.
Retornou depois da alta hospitalar.

Não é bom português o uso de após antes de formas nominais; prefere-se depois de (Sacconi, Não erre mais, 2005, p. 118):

“Examine o paciente após (depois de) lavar as mãos”.
“Deixou a sala após (depois de) operar”.

Segundo Antenor Nascentes (Dicionário de sinônimos, 1969), após se usa em sentido de posterioriedade no estado de movimento: Corri após e o alcancei; depois dá ideia de posterioriedade no tempo: Cheguei duas horas depois.
  
Após não se usa com preposição a, como nos exemplos: “após ao centro cirúrgico”, “após ao corredor”. É encontradiço na linguagem usual, exemplos como “após ao jogo”, “após ao filme”, “após ao término”, “após ao óbito”, “após ao nascimento”.

É preciso lembrar que após é preposição e sua junção com outra preposição, no caso a preposição a, configura redundância.

Também é útil lembrar que depois é advérbio de tempo e, assim, fica mais apropriado usá-lo como elemento que modifica um verbo: Em lugar de “Almoçaremos antes e caminharemos após”, é mais adequado dizer: Almoçaremos antes e caminharemos depois. “Após é artificial. Use-o em expressões consagradas como ano após anos, dia após dias,. No mais, dê preferência ao depois: depois do sinal, deixe o recado (D. Squarisi, Manual de redação e estilo – para mídias convergentes 2011).

Outras possibilidades de substituição:

        “Após (passados) dois dias, o paciente foi operado”.
        “Foi tratado após (em seguida aos) os exames”.
        “A prescrição médica foi após (ulterior aos) os testes laboratoriais”.
        “A avaliação feita foi após (posterior ao) o tratamento.”.

Ensina Piacentini (Língua Brasil – não tropece na língua, 2003, p. 89): “Após é preposição – liga palavras ou termos de uma oração: ano após ano, um após outro, Pedro após Paulo. Depois é advérbio – basicamente modificador do verbo: falaremos depois, vou depois. E temos ainda a locução prepositiva depois de, que rege um substantivo ou um pronome: depois da chuva, depois de mim, depois de você.
Acontece que após vem sendo usado há séculos também nas duas últimas situações: falaremos após, após a chuva, após mim... já não dá para dizer que esse emprego esteja errado, mas decerto é melhor usar depois (de) com verbos e com o particípio: vamos depois, sairei depois, depois de distribuído, depois de organizado. Recomenda-se também usar depois (nunca após) no início da oração, com o sentido de posteriormente: Disse que não ia. Depois disse que sim”.

Não se usa após com o particípio (Ledur-Sampaio, Os pecados da língua. 4.o v., 1996, p. 84). Assim, são criticáveis as frases: “O omeprazol não tem estabilidade após (depois de) aberto”, “Operaremos após (depois de) realizados os exames”.

Pode-se usar após de em sentido espacial, de tempo (Dic. Aurélio, 2009): Acordou tarde após de uma noitada de estudos.

Em que pese haver usos adequados e mais padronizados, após aparece indiscriminadamente nos relatos médicos e com frequência até um pouco abusiva. Por amor ao bom estilo e à organização da língua, convém reparar essa imperfeição redacional, já que não é necessária. 

Finalizo com um bom recado do Prof. Domício Proença Filho, Univ. Federal Fluminense:


           “Somos livres para falar ou escrever como quisermos, como soubermos, como pudermos. Mas é também evidente que a adequação contribui efetivamente para maior eficiência comunicativa. O uso formal, designação que sintomaticamente disputa espaço com uso ou registro culto é ainda exigência para certos e importantes momento da vida. Quem não o domina frequentemente se defronta com limitações no acesso ao mercado de trabalho, na progressão social, na vivência escolar, na comunicação com os outros. As raras e honrosas exceções se devem a articulações mentais privilegiadas e excepcionalíssimos desempenhos profissionais, assim mesmo no âmbito da expressão falada. Na manifestação escrita da comunicação cotidiana, impõe-se o regime formal. E de tal maneira, que mesmo as lembradas exceções buscam, rápida e discretamente, o assessoramento de um professor ou professora de português para evitar, no mínimo, o anônimo, irônico e cruel castigo do anedotário” (Domício Proença Filho,doutor, professor livre docente aposentado,  professor emérito e titular de Literatura Brasileira da Universidade Federal Fluminense, em seu livro Por Dentro das Palavras da Nossa Língua Portuguesa, Rio de Janeiro, Record, 2003, p. 11-12).

Simônides Bacelar
Brasília, DF

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