16/07/2015

 Despautério
 
Palavra que exemplifica a condição de alguém ter seu nome associado a coisas mal feitas. Nos dicionários da língua portuguesa, significa absurdo, asneira, tolice, disparate, dislate. Nesse caso, referencia-se o nome de um antigo gramático flamengo, Jean Van Pauteren (1460(80?)-1520), cuja obra fora contestada por haver muitas falhas. Foi professor de latim e francês. Ensinou em Louvain (Bélgica), Bois-le-Duc (Holanda), Bergues e Comines (França).

Era conhecido como Despautère, nome afrancesado. Escreveu tratados da língua latina Contextus grammaticae artis (Paris, 1517); Syntaxis; Ars Epistolica (1519); Ars Versificatoria; Latinae Grammaticae Epitome; Orthographia entre outros. Seu trabalho fora escrito em latim, e o autor assinou-o como Despauterius (J. Ribeiro, Curiosidades Verbais, 1963, p. 174). Sua obra Commentarii Grammatici (1537), confusa e com muitos dislates, foi muito difundida na Europa nos séculos XVI-XVII (Houaiss, 2009). Faltava-lhe clareza de exposição e havia insuficiência nas explicações das regras gramaticais. Seus versos eram obscuros, confusos, e provocaram críticas rigorosas de autores como Nicolas Malebranche e Pierre Nicole. Apesar dos defeitos didáticos, seus livros tiveram numerosas edições, publicadas até o século XVIII, quando surgiram obras mais atualizadas e mais eficientes (Francisco Manuel de Melo, A Visita das Fontes: Apólogo Dialogal Terceiro, 1962, p. 323).

Commentarii Grammatici foi reeditada, traduzida e adaptada por gramáticos como Dupréau, Behourt e Pajot e serviu como base ao ensino de latim em colégios de jesuítas na França até o século XVIII. Seu epitáfio permanece em exposição na Igreja Saint-Chrysole de Comines(https://fr.wikipedia.org/wiki/Jean_Despautere).

Por motivo humanitário, recomenda-se não usar o termo em questão, sobretudo como partícipe da penalização perene de gente que não usou conscientemente de erros com má fé e propósito de prejudicar.


 Simônides Bacelar
 Brasília, DF