Cordão espermático ou
funículo espermático?
Cordão espermático é
expressão consagrada na comunidade médica, mas a Terminologia Anatômica
(2001) traz funículo espermático, denominação mais apropriada, uma vez que
funículo é de procedência latina, funiculus, corda pequena, de
funis, corda. Cordão é um galicismo; de cordon, diminutivo de
corde, corda. Se os nomes científicos são, de regra, tomados do grego e
do latim, é útil considerar essa tradição, particularmente em comunicações
científicas formais.
Contudo, os
linguistas em geral dizem com razão que todas as formas existentes na língua são
patrimônio do idioma por contribuírem para a comunicação entre os falantes,
principal função das línguas. Nesse contexto, funículo espermático e cordão
espermático são termos legítimos em português, assim como se diz cordão
umbilical. Recomenda-se usar funículo espermático como termo preferencial em
situações formais, pois é o nome escolhido pela Sociedade Brasileira de
Anatomia. Mas sem inflexibilidade, pois o uso da língua é um domínio
essencialmente público e as variações fazem parte deste.
Em muitos casos, os
descritores usam os termos de acordo com o uso geral, que expressa a realidade
da língua. Se houver nas palavras-chave apenas os termos acadêmicos e eruditos
indicados formalmente, muitos artigos que contêm apenas os termos geralmente
usados entre os médicos e outros profissionais serão ignorados pelos
pesquisadores que recorrerem apenas aos nomes formais. Se, por exemplo se só
houver funículo espermático em um trabalho, seu autor vai correr o risco de não
ser acessado por muitos leitores que só conhecem o termo cordão espermático e é
este que naturalmente vão usar para achar artigos sobre o tema. Assim, a função
de divulgar o artigo para os devidos efeitos vai ficar frustrada. Por isso,
recomenda-se usar nas palavras-chave os nomes indicados pelos descritores, mas
nos textos se pode deixar os indicados formalmente ou oficialmente pelas
sociedades de especialidades, mas sem radicalizar, ou seja, também se deve
deixar duas ou três vezes o nome usado mais comumente.
Adotar como nomes
técnicos científicos termos imperfeitos ou questionáveis, sobretudo fora do
âmbito legal ou oficial, pode ser complicado, embora justificável por amplo uso.
O ideal seria que os descritores usassem e divulgassem também os termos formais,
legais ou oficiais ao lado daqueles habitualmente ou tradicionalmente utilizados
na literatura. Talvez seja apenas uma questão de atualizar com acréscimos as
palavras-chave entre os descritores.
Simônides Bacelar
Brasília, DF