09/11/2013

Vítima fatal.

A vítima não é propriamente fatal, mas sim o acidente que a vitimou (L. Garcia, Manual de redação e estilo, 1996). Fatal é aquilo que matou, não aquele que morreu. Por exemplo: O doente não foi fatal, mas a doença que o vitimou.

Assim, se diz:

           morto por doença fatal;

           vítima de uma complicação fatal de shistossomose;

           veneno fatal;

           cirurgia fatal;

           reação alérgica fatal.

Do latim fatalis, do destino, funesto, mortal; de fatum, predição, oráculo, destino, fado, destino infeliz, desgraça (A. Ferreira, Dic. lat. port., 1996).

Conforme se lê no Houaiss (2009) e em outros dicionários de referência, fatal significa que é inevitável; que ocorre como se fora determinado pelo destino; que põe termo, que mata; funesto, mortal; que leva à infelicidade, à ruína; que é desastroso, nefasto;  que prenuncia ou faz prever desfecho trágico ou funesto. Fatal significa mortífero, que causa morte, que traz ruína ou desgraça. Por isso, é questionável logicamente a expressão “vítima fatal”: a vítima recebe a morte e não a produz. Trata-se então de uma ambiguidade

Fatal  é um golpe, um tiro, um acidente, uma pancada, um choque e nunca a vítima” (E. Martins, Manual de redação e estilo, 1977). “Fatal quer dizer que mata. A pessoa que perde a vida não mata. Morre. O acidente sim, mata, ele é fatal” (D. Squarisi, Dicas de português, Correio Braziliense, 25-5-2011, p. 5).

E oportuno notar que o uso de “vítima fatal” no sentido de vítima morta é comum, sobretudo na linguagem jornalística, o que se tornou fato da língua e isso legitima seu uso. Contudo, em linguagem científica formal, em que a clareza e a precisão são importantes qualidades de redação, recomenda-se usar fatal em seu sentido próprio. Assim, em lugar de “vítima fatal do acidente”, pode-se dizer: vítima de fatalidade, vítima morta por acidente fatal, ou apenas vítima de acidente fatal.

Simônides Bacelar
Médico, Brasília, DF

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